Rubens Pereira
Tenho lembranças fúnebres da morte:
O vento cortando em fatias o torpor das noites frias;
Rosas fétidas, velórios repletos de gente vazia;
Refrões recitados com ensaiada letargia
("Todos vamos um dia, seja forte...")
E as gargalhadas que ecoam, antes que alguém as aborte?
Hipocrisia!
E as velas queimando passados futuros?
Chama sombria!
E a lava de sangue que escorre dos muros?
Hemorragia!
E os credos que pousam, do sul e do norte?
Santa heresia!
Perdi mil vidas para a morte, não me sobrou nenhuma,
Batalhas sem tréguas, sem regras, sem dó.
Mutilado de guerra, sem pernas, nem braços,
Sou resto de alma que um sopro escora
A vítrea pilastra, morto de cansaço,
Punhado disperso de enxofre, de pó.
0 comentários:
Postar um comentário