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sexta-feira, 8 de agosto de 2008

A MORTE

Rubens Pereira

Tenho lembranças fúnebres da morte:
O vento cortando em fatias o torpor das noites frias;
Rosas fétidas, velórios repletos de gente vazia;
Refrões recitados com ensaiada letargia
("Todos vamos um dia, seja forte...")

E as gargalhadas que ecoam, antes que alguém as aborte?
Hipocrisia!
E as velas queimando passados futuros?
Chama sombria!
E a lava de sangue que escorre dos muros?
Hemorragia!
E os credos que pousam, do sul e do norte?
Santa heresia!

Perdi mil vidas para a morte, não me sobrou nenhuma,
Batalhas sem tréguas, sem regras, sem dó.
Mutilado de guerra, sem pernas, nem braços,
Sou resto de alma que um sopro escora
A vítrea pilastra, morto de cansaço,
Punhado disperso de enxofre, de pó.

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